29 May 2014

daphnis et chloé

daphnis et chloé @ opéra nationale de paris
Tout se passe à peu près comme
si l'on reprochait à la pomme
d'être bonne à manger.
Mais il reste d'autres dangers.

Celui de la laisser sur l'arbre,
celui de la sculpter en marbre,
et le dernier, le pire :
de lui en vouloir d'être en cire.

15 May 2014

cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.

7 May 2014

Na plataforma ao lado, sai quase na mesma hora o Paris-Berlin-Moscou. O trem é operado pelas Ferrovias Russas, as cabines vistas de fora são as mesmas dos trens noturnos franceses e alemães, cada vez mais raros, sombrias, os avisos em cirilico e alemão. O vagão restaurante como não se vê mais nos nossos dias, as mesas postas e organisadas, as janelas pequenas. Nas outras plataformas estão alinhados os trens de grande velocidade, claros, luminosos, funcionais. O Paris-Moscou é um anacronismo. Quem prefere esse trem à um vôo mais rapido, mais direto? Imagino os Corto Malteses deste mundo. Uma ponta de nostalgia da viagem passa, a mesma sensação que eu tive em outras plataformas, dentro do Paris-Veneza ou vendo passar o Instabul-Aman. Me pergunto quanto tempo leva esse trem para chegar ao destino? Um vida inteira talvez.
Sento-me no assento que me é reservado. Espero a partida do meu trem e me deixo perseguir o cotidiano.

Paris-Est,6h50

1 May 2014

o fim no começo

A palavra cortada
na primeira sílaba.
A consoante esvanecida
sem que a língua atingisse o alvéolo.
O que jamais se esqueceria
pois nem principiou a ser lembrado.
O campo – havia, havia um campo?
irremediavelmente murcho em sombra
antes de imaginar-se a figura
de um campo.

A vida não chega a ser breve.