22 October 2015

les ingénus

Les hauts talons luttaient avec les longues jupes,
En sorte que, selon le terrain et le vent,
Parfois luisaient des bas de jambes, trop souvent
Interceptés ! - et nous aimions ce jeu de dupes.

Parfois aussi le dard d’un insecte jaloux
Inquiétait le col des belles sous les branches,
Et c’étaient des éclairs soudains de nuques blanches,
Et ce régal comblait nos jeunes yeux de fous.

Le soir tombait, un soir équivoque d’automne :
Les belles, se pendant rêveuses à nos bras,
Dirent alors des mots si spécieux, tout bas,
Que notre âme depuis ce temps tremble et s’étonne.

18 October 2015

the dock of the bay | chicago

chicago chicago
chicago
Sittin here resting my bones
And this loneliness won’t leave me alone
It’s two thousand miles I roamed
Just to make this dock my home

(Otis Redding)
Sentado num McDonald’s impressionante, no cruzamento de duas estradas perpendiculares, que cortavam as planícies de horizonte a horizonte, eu decidi não continuar a Saint Louis. A viagem estava chegando ao fim, e Saint Louis virou uma etada supérflua. Me parecia que todos os clientes estavam me compreendiam : sem uma cidade à vista, aquelas dezenas de pessoas sô podiam estar paradas naquela encruzilhada para tomar um decisão de mudar de curso. Era o tempo e o lugar.
No ônibus para Chicago, lotado de negros e mexicanos, eu virei uma espécie de curiosidade e mascote. Nas paradas sorrisos amigos orientavam, quando o motorista dizia algo incompreensível no microfone do ônibus, alguém em torno me explicava.
Na chegada, eu segui a multidão que descia do ônibus, no fim da fila, observando meus companheiros de viagem em seus reencontros. Quando ia descer, foi impedido pelo motorista. Se você descer aqui, não volta mais, me diz. Aquela era a primeira parada do ônibus em Chicago, a estação dos subúrbios coloridos e perigosos, onde alguém com meu ar inocente e minha cor de pele não tem uma longa expectativa de vida. Meus companheiros de viagem me acenaram da rua e eu segui sozinho, ao lado do motorista até a estação central.

17 de fevereiro de 1994

4 October 2015

destination love | memphis

memphis
How much more can I stand
I can’t wait to see your smile
Only got about ten more miles
Destination love, destionation love

(Wynonie Harris)
Se encontrei Graceland vazia, os estúdios Sun estavam cheios. Na sala da casa que fazia vezes de estúdio de gravação, logo após a entrada, se acumulavam escrivaninhas, cabos, discos de ouro, pianos, pés de microfone, poeira, cadeiras, caixas não identificadas, fotografias de grupos recentes em visita, pequenos objetos eletrônicos não identificados. O destino do estúdio alternou de maneira desorganizada crises e momentos sublimes desde os anos cinquenta. Esses objetos todos espalhados eram uma espécie de memória que ia se empilhando, desordenada, alegre, cada objeto escondendo outro, mais antigo.
O mobiliário incomum da Graceland majestuosa não se comparava àquele estúdio artesanal. Apesar da bagunça, Sun Records continuava acolhedora, mais perigosa, mais divertida, viva, com cada época sucedendo à precedente, com outras músicas e outros músicos.
Parti no dia seguinte de Memphis, após um passagem por um bar e uma noite mal dormida. Fugi na verdade do albergue, apavorado com os barulhos de discussão e luta que vinha do andar de cima do galpão. Às cinco da manhã peguei minha mochila e segui a pé para a estação da Greyhound, ouvindo Jerry Lee Lewis e com um sorriso nos lábios.

16 de fevereiro de 1994