22 October 2015

les ingénus

Les hauts talons luttaient avec les longues jupes,
En sorte que, selon le terrain et le vent,
Parfois luisaient des bas de jambes, trop souvent
Interceptés ! - et nous aimions ce jeu de dupes.

Parfois aussi le dard d’un insecte jaloux
Inquiétait le col des belles sous les branches,
Et c’étaient des éclairs soudains de nuques blanches,
Et ce régal comblait nos jeunes yeux de fous.

Le soir tombait, un soir équivoque d’automne :
Les belles, se pendant rêveuses à nos bras,
Dirent alors des mots si spécieux, tout bas,
Que notre âme depuis ce temps tremble et s’étonne.

18 October 2015

the dock of the bay | chicago

chicago chicago
chicago
Sittin here resting my bones
And this loneliness won’t leave me alone
It’s two thousand miles I roamed
Just to make this dock my home

(Otis Redding)
Sentado num McDonald’s impressionante, no cruzamento de duas estradas perpendiculares, que cortavam as planícies de horizonte a horizonte, eu decidi não continuar a Saint Louis. A viagem estava chegando ao fim, e Saint Louis virou uma etada supérflua. Me parecia que todos os clientes estavam me compreendiam : sem uma cidade à vista, aquelas dezenas de pessoas sô podiam estar paradas naquela encruzilhada para tomar um decisão de mudar de curso. Era o tempo e o lugar.
No ônibus para Chicago, lotado de negros e mexicanos, eu virei uma espécie de curiosidade e mascote. Nas paradas sorrisos amigos orientavam, quando o motorista dizia algo incompreensível no microfone do ônibus, alguém em torno me explicava.
Na chegada, eu segui a multidão que descia do ônibus, no fim da fila, observando meus companheiros de viagem em seus reencontros. Quando ia descer, foi impedido pelo motorista. Se você descer aqui, não volta mais, me diz. Aquela era a primeira parada do ônibus em Chicago, a estação dos subúrbios coloridos e perigosos, onde alguém com meu ar inocente e minha cor de pele não tem uma longa expectativa de vida. Meus companheiros de viagem me acenaram da rua e eu segui sozinho, ao lado do motorista até a estação central.

17 de fevereiro de 1994

4 October 2015

destination love | memphis

memphis
How much more can I stand
I can’t wait to see your smile
Only got about ten more miles
Destination love, destionation love

(Wynonie Harris)
Se encontrei Graceland vazia, os estúdios Sun estavam cheios. Na sala da casa que fazia vezes de estúdio de gravação, logo após a entrada, se acumulavam escrivaninhas, cabos, discos de ouro, pianos, pés de microfone, poeira, cadeiras, caixas não identificadas, fotografias de grupos recentes em visita, pequenos objetos eletrônicos não identificados. O destino do estúdio alternou de maneira desorganizada crises e momentos sublimes desde os anos cinquenta. Esses objetos todos espalhados eram uma espécie de memória que ia se empilhando, desordenada, alegre, cada objeto escondendo outro, mais antigo.
O mobiliário incomum da Graceland majestuosa não se comparava àquele estúdio artesanal. Apesar da bagunça, Sun Records continuava acolhedora, mais perigosa, mais divertida, viva, com cada época sucedendo à precedente, com outras músicas e outros músicos.
Parti no dia seguinte de Memphis, após um passagem por um bar e uma noite mal dormida. Fugi na verdade do albergue, apavorado com os barulhos de discussão e luta que vinha do andar de cima do galpão. Às cinco da manhã peguei minha mochila e segui a pé para a estação da Greyhound, ouvindo Jerry Lee Lewis e com um sorriso nos lábios.

16 de fevereiro de 1994

27 September 2015

compared to what | memphis

graceland graceland
graceland
Preachers filling us with frightening
they all trying to teach us what they think is right
they really got to be some kind of nuts
I can’t use it
I am tryin’ to do a real compared to what

(Eddie Harris)
Quando eu desci do ônibus em Memphis na véspera, eu não pensava em outra coisa. O sol alto e radiante anunciava a peregrinação à Graceland, templo, túmulo, residência. Eu fingia que ia visitar como simples turista a casa d’ele, em fim de adolescência eu antecipava alguma experiência mística que trouxesse um pouco de sossego. Eu recordava as noites e tardes da noite que eu passei ouvindo velhos LPs ainda antes de sair viajando pelo mundo, tempo em que eu pensava que as canções me diziam algo.
Na realidade, as canções não me diziam mais nada. Por entre os carpetes verdes, as estampas zebradas, as cores exageradas, descobri que ele também me abandonou. Graceland era um pedaço do passado dele, as músicas de que eu me lembrava tão bem eram mais um pedaço do meu. Nem a vida dele, nem a minha, me pareciam ser exatamente as vidas que eu nos tinha imaginado, romântica, heróica, beirando o místico. Eram no fim das contas, vidas ordinárias, a dele, a minha. Cada uma à sua maneira.
Graceland era um túmulo enfim, com uma mansão construída em torno. Restava pouco a fazer, senão contemplar aquela vida impossível, em silêncio de preferência, para não acordá-lo da sua siesta no segundo andar.

16 de fevereiro de 1994

24 September 2015

iniciação

Constrói-se a linha sem ajuda.
Vive de sua lágrima o cristal,
A asa do anjo não se traduz
Em plástica,
E o som ignora o eco.

O espírito no escuro se levanta
Sem flecha e oriente certo.
Vazio de pássaros não se vela o céu,
E, sem mover-se, a pura chama arde.

20 September 2015

drowning man | memphis

memphis memphis
memphis
How much more can I stand
When you are pouring water on a drowning man?
You put me on the right track
And then you let me down
You stab me in my back, yes you do baby
Every time I turn around

(Otis Clay)
Cheguei à Memphis num fim de tarde, a estação ficava no centro da cidade, frio e imundo. A viagem durou o dia inteiro, e as cidades seguiam suas cores, vilas negras, vilarejos brancos, o rio e o blues não misturaram os homens. No Greyhound vi estudantes canadenses voltando do Mardi Gras, bêbados e barulhentos. E conversei com um rapaz que esperava ganhar na próxima cidade o suficiente para continuar para a cidade seguinte. Jack Kerouac talvez não tenha inventado toda aquela história, afinal, tive a impressão que ele estava on the road.
Atravessamos uma paisagem que era pontuado de cidades brancas ou pretas, prados verdes, com cada cidade no caminho mostrando a sua cor. Na estação de Memphis, eu era alvo de olhares curiosos, um branco perdido numa multidão negra, estrangeiro não pela cor, mas pela idéia da minha presença ali. Os Estados Unidos são cores primárias. Da porta do Bed & Breakfast afastado do centro, um Hell’s Angel gordo, indiferente e de longas barbas me apontou para o galpão destinados aos viajantes sem fundos, alguns passos mais longe. A casa antiga parecia já um pedaço de uma wasteland decadente, o galpão de camas comunais, desfeitas, mal-feitas estava em um círculo do inferno além. Tudo, o galpão, o Bed & Breakfast, o jardim, Memphis, os meus dias, era devastação.
No fim-de-tarde amarelo à margem do rio eu comecei a me perguntar o que eu poderia estar fazendo de fato. O que me levou até ali, os nãos recebidos naqueles meses, daquela moça distante, dum destino qualquer, não me levava mais além. O pôr-do-sol ia terminar de uma hora para outra, e eu queria acreditar que o Mississipi ia levar a solidão embora. Mas eu não era daquele lugar, nem o rio, nem a música me conheciam.. Tudo o que eu podia esperar da parada naquela cidade era uma espécie de clemência, esperar que o rio não me levaria ainda mais longe na minha viagem.

15 de fevereiro de 1994

17 September 2015

the road not taken

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

13 September 2015

inside out

Inside Out

just like a fish | new orleans

new orleans new orleans
new orleans
it’s not the things you say
it’s what you use for bait
I am just like a fish
the way I keep going for your line"

(Esther Phillips)
Me veio a sensação que ela estava por ali. Não quando eu passeei solitário pelas docas, mas quando eu atravessei a multidão que seguia o Mardi Gras. O que me trouxe aquela impressão ? O comportamento livre das moças sobre os balcões ? Talvez. Aqueles olhos mais que verdes que me abordaram na penumbra de um beco entre dois casarões, « Você está sozinho na cidade ? » A atmosfera festiva que me fazia sonhar com uma vida mais livre ?
A decadência rústica do Mardi Gras deste lado do oceano lembra pouco a decadência elegante da margem oriental do Atlântico, de Veneza. Ouve-se pouco do sonhado jazz, e a perdição das moças nos caminhões se compra fácil com um colar de contas de plástico. Um mercado livre sem graças, fácil e plástico e músicas inaudiveís. Só os artistas de rua, com suas ambições modestas desenhavam alguma alma para a festa.
De artista de rua em artista de rua, fui seguindo as ruas da cidade, Bourbon, Royal, nomes que lembravam aventuras de outros tempos, não minhas mas da cidade. A bagunça da festa não apagava aquela melancolia que me invadia sempre que eu pensava no passado, não tão distante, de alguns meses antes.
Soube anos depois que ela esteve ali também, a sensação de presença não foi um sonho de amor perdido, por um dia apenas não nos encontramos. Não poderia ter sido diferente naqueles anos , o destindo era um nó, aquela presença, a nostalgia, minha decisão de entrar em um Greyhound em direção ao norte para escapar da balbúrdia de New Orleans.

14 de fevereiro de 1994

10 September 2015

os dois lados

Deste lado tem meu corpo
tem o sonho
tem a minha namorada na janela
tem as ruas gritando de luzes e movimentos
tem meu amor tão lento
tem o mundo batendo na minha memória
tem o caminho pro trabalho.

Do outro lado tem outras vidas vivendo a minha vida
tem pensamentos sérios me esperando na sala de visitas
tem minha noiva definitiva me esperando com flores na mão,
tem a morte, as colunas da ordem e da desordem.

6 September 2015

i don't know | new orleans

new orleans
My papa told me, my mother sat down and cried,
Say, "You’re too young a man, son, to have the many women you got"
I looked at my mother then, I didn’t even crack a smile,
I say, "If the women kills me, I don’t mind dyin’"

(Willie Mabon)
Onde você vai ficar hospedado em New Orleans?". O tipo ao me lado vestia um paletó claro sobre a pele escura. Acompanhava um sorriso cinematográfico, desses de anos frequentando uma cadeira de dentista. O todo sobre mais de um centena e meia de quilos.
Ele também ia para o Mardi Gras, e acho que era a antecipação da festa que o levava a regar o suco de laranja com um líquido dourado. O suco de laranja era servido pela aeromoça, o complemento dourado saia de uma garrafinha prateada discretamente escondida no bolso interno do terno.
Ele ia com quatro amigos, tudo arranjado, hotel reservado, carro alugado, a festa longamente antecipada. Não fosse o assento do avião, acho que ele teria caído para trás quando eu respondi que não sabia ainda onde ia dormir naquela noite. "Resolvo no aeroporto". Hábitos de outras viagens e uma certa inocência que não cabiam em New Orleans.
Era cedo no dia ainda, e por aqueles anos me importava pouco onde eu iria pousar. Hábito orgulhoso talvez, mas meu hábito, nunca havia me falhado a confiança nos arranjos de último minuto, de que o mundo me acomodaria. Mas para ele, o fato de um branquelo estrangeiro ficar desacompanhado e despreparado em New Orleans em pleno Mardi Gras era sim uma crise maior. Impossível entender como eu pude ter uma idéia dessas, ainda mais no meio do Carnaval. Me ofereceu whisky, ajuda e carona, nessa ordem. Recusei.
Queria ficar sozinho, longe de grupos barulhenots, mulheres e confusão. Uma idéia idiota vista de hoje em dia: se era isso que eu queria, não era New Orleans a direção correta. Não naqueles dias, ao menos. Do aeroporto eu consegui encontrar o último buraco disponível na cidade, nos fundos de um YMCA. Naquele fim de YMCA eu consegui passar minhas noites, mas não os dias. Um cubículo bolorento, com lençois rasgados e uma janela de vidro quebrado dando para lugar algum. Sem planos precisos para os dias seguintes. não tinha outra opção a não ser vagar pela multidão embriagada e embalada pela música.

13 de fevereiro de 1994

3 September 2015

reflexão n.1

Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
É a circulação e o movimento infinito.
Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.

30 August 2015

whale of a tale | chicago

chicago chicago
...I wanna tell a whale of a tale about your kissing,
whale of a tale about your hugging too...
you’ve got an octopus squeeze when you hold me tight
and an electric eel kiss that makes my eyes shine bright...

(Wynonie Harris)
Relembrar, recontar uma viagem de há tantos anos é exercitar um jogo de sombras. Os detalhes interessantes que poderiam formar um relato de viagens já se foram e só sobram uma ou duas impressões ampliadas pelas lentes da nostalgia, que dão a forma das lembranças. O resto é preenchido por pequenas ilusões.
A viagem de New Orleans a Chicago não durou mais que um par de dias, intercalados por uma dezena de noites nos bares do caminho. Os acontecimentos da viagem se resumem hoje às longas travessias das pradarias em ônibus, pontuadas de uma ou duas paradas, e às canções que eu ia ouvindo em longos dias nos ônibus e longas noites nos bares.
Uma grande viagem pois, para um pequeno budget. Mas uma viagem que cabia exatamente no vazio daqueles meus dias, entre a ida e a volta dos meus amores daqueles anos.

12 de fevereiro de 1994

27 August 2015

quem

Quem um dia dançou com os pés de outro?
Todos os que dançam, todos
Apenas dançam os próprios pés.
Quem pensa na imortalidade do outro
E durante seu próprio sonho
Sonha com o sonho do outro?
Quem, no nascimento do menino humilde,
Pede sua coroação pelos reis?
Quem manda violetas ao pobre encarcerado?
Quem se sente poeta pelo que o não é?

9 August 2015

da nostalgia como legado | on nostalgia as a legacy

visitaçõesBenjamin 42 High Key
Quando descobri que meu pai havia vendido a casa na praia onde passei todos as minhas férias de verão, o que me invadiu foi desapontamento. É certo que era seu direito, era uma herança de meu avô, e naqueles tempos o dinheiro da venda seria claramente útil. Já não a frequentávamos como antes, as horas de viagem para chegar a ela mais a vida de jovens adultos que levavámos minha irmã e eu já haviam feito que a casa estivesse a meio caminho de uma idealização. Para mim, aquela casa era o mais próximo que uma família de imigrantes tinha de raízes. Mesmo que eu a frequentasse pouco, sua existência criava um ponto de referência. Era uma das estrelas fixas da minha vida então.

Aquela casa se confundia com minha infância, com a parte despreocupada dela. A vida era simples, desprendida, livre durante as semanas que passávamos lá a cada ano, longe dos estudos que me absorviam e do cotidiano cinzento das grandes cidades onde cresci.

Eu tinha a expectativa que meu pai reconhecesse a importância daquele lugar para mim e que ele assumiria um papel de guardião e transmissor, garantindo que aquele paraíso da minha infância chegasse aos seus netos. Não foi assim.

***

Albert Camus foi um determinado opositor da pena de morte. Era uma posição pública, articulada, descrita num ensaio « Reflexões sobre a Guilhotina ». Era também uma posição visceral.

Sua origem vem de um episódio da vida de seu pai : certa vez o pai de Camus se levantou muito cedo e foi assistir só à execução pública de um condenado pelo qual ele tinha uma repulsa particular. O homem havia assassinado uma família inteira, incluindo crianças pequenas. Não havia dúvidas sobra a sua culpabilidade. A punição era conforme à lei, a pena era clara, límpida. A execução aconteceu na hora e lugar marcados. O pai de Camus voltou lívido do espetáculo, deitou-se doente e por várias horas só se levantava para vomitar. Nunca mais tocou no assunto com ninguém.

Camus não conheceu seu pai, morto na primeira guerra mundial quando ele tinha um ano. Cresceu educado pela mãe e pela avó materna, tudo que dizia respeito ao pai era raro. E apesar disso, essa lembrança foi uma das heranças da infância que ele carregou pela vida inteira, ideal, íntegra, una com ele mesmo.

A nostalgia daquele pai desconhecido foi uma espécie de legado.

***

Nostalgia vem do grego νόστος (a volta para a terra natal) e ἄλγος (dor) O termo foi criado por um médico alemão no século dezessete para descrever uma doença observada em mercenários suiços, que caíam doentes quando longe de suas terras. A palavra foi adotada por outros exércitos, pelo movimento romântico, por viajantes, poetas, por nós todos.

Terminou por significar o sentimento de falta, de distância, por um tempo mais feliz, pela infância, por um país ideal e inatingível que existe em algum lugar na memória. Uma terra do nunca, intocável, intangível.

***

Talvez fosse o que fizesse os mercenários suiços temíveis e ao mesmo tempo o que os tornasse doentes, nostálgicos, a sensação de não haver mais possibilidade de volta ao país, o fim da esperança. Diz-se de alguém desesperado que ele não tem mais nada à perder.

Ou talvez não. Prefiro pensar que a nostalgia seja um fundamento da existência, de quem somos e do que nos tornamos. O norte de nossas esperaças.

***

Meu filho que nunca terá a oportunidade de conhecer aquela casa na praia. Na realidade não importa, não é parte da sua vida, faz parte da minha. Meu pai ao vendê-la fez seu papel de Pai : cortou o que restava do cordão umbilical. Ao permitir que a casa desaparecesse deste mundo fez com que ela permanecesse em mim. Que outras lembranças viriam depois, se ela tivesse continuado conosco ? A distância real para visitá-la e a dificuldade do esforço financeiro de mantê-la provavelmente fizessem sua existência declinar, tornaria-se uma vaidade, de uma obrigação familiar.

Olho para meu filho e penso naquela casa, sei que o que realmente importa é que sua nostalgia será nosso legado involuntário, uma parte importante e invisível do homem que ele será. E que eu só posso esperar que a nostalgia que lhe deixo seja tão rica como a que me foi legada.


When I learned that my father had sold the house on the beach where I had spent all my summer vacations, I was invaded by disappointment. For sure, it was his right, the house was left to him by my grandfather; in those days that money would be clearly useful. We did not went to visit the house as before, the many hours needed to reach it and the young adult life that me and my sister lived had already almost turned that house in an idealization. For me that house was the closest a family of imigrants could have as roots. Even if I seldom visited it, its mere existence was a reference. It was one of the fixed stars of my life at that time.

That house and my childhood, along with the carefree part of it, were almost the same. Life was simple, loose, free during the weeks spent there each year, away from school that absorbed much of my time and far from the grayish life in the big cities where I grew.

I had the expectation that my father recognized the meaning of the place for me. And that he would fulfill the role of keeper would relay it to me. That he would ensure that the paradise of my childhood reaches his grandchildren. It turned out otherwise.

***

Albert Camus fiercelly opposed capital punishment. It was a public, articulated opposition, it was developed in a essay "Reflexions on the Guillotine". It was also a visceral position.

The origin of this position is in a episode in the life of his father. Once, Camus's father woke up very early to watch the public execution of a man. He was particularly disgusted with that man, he had brutally murdered a whole family, including small children. There was no doubt about his guilt. The punishment was according to law, the sentence was limpid. The execution took place on the scheduled time and place. Camus's father came back sick from the execution, he laid down ill and for many hours would only leave bed to throw up. He never mentioned the matter again.

Camus did not know his father, who died during the first world war when Camus was one year old. He was raised by his mother and grandmother, everything related to his father was scarce. Nevertheless, the recollection of this story was part of the heritage that he carried through his life. An heritage that was whole, ideal, one with himself.

The nostalgia of his unknown father was a kind of legacy.

***

Nostalgia comes from the greek word νόστος (the Homeric homecoming) and ἄλγος (pain). The term was created in the seventeenth century by a german doctor to describe the sickness observed in swiss mercenaries. Many of them fell ill when away from their homeland. The word was then adopted by other armies, by the romantic movement, by travellers, by poets, by us all.

It ended up meaning the feeling of distance, the missing of happier times, of childhood, of the country that is both ideal and unreacheable that exists somewhere in our memory. A Neverland, untouchable, intangible.

***

Maybe this very feeling was what made the swiss mercenaries feared and sick, nostalgic, the sensation of not having a way back to their country, the lack of hope. It is said of the desperate that they have nothing to loose.

Maybe not. I prefer to think that nostalgia is one of the fundaments of our existence, of who we are and of who we become. The north of our hopes.

***

My son will never have the opportunity to know that house on the beach. In fact, it does not matter, it is not part of his life, it is part of mine. When he sold it, my father unknowingly played his role as a Father: he cut what was left of my umbilical cord. When he allowed the house to disappear from this world, he allowed it to live in me. What other recollections would I have if we kept it? The distance prevented us to visit it, the financial effort to maintain it would probably cause it to decline, it would have become an encumbrance, a family obligation.

I look at my son and think about that house. I know that what really matters now is the building of his nostalgia, it will be our involuntary legacy, an important and invisible part of the man he will be. And I can only hope that his nostalgia will be as rich as the one that was left to me.



9 April 2015

道づれは
胡蝶をたのむ
旅路かな



comme compagnon
je demande au papillon
d’être du voyage

nekojita

2 April 2015

石に寝る蝶
はくめいの我を
夢むらん



dormant sur la pierre papillon–
rêverais-tu de moi,
l’infortuné ?

nekojita

5 February 2015

those two

That tree said
I don't like that white car under me,
it smells gasoline
That other tree next to it said
O you're always complaining
you're a neurotic
you can see by the way you're bent over.

29 January 2015

136 syllables at rocky mountain dharma center

Tail turned to red sunset on a juniper crown a lone magpie cawks.

Mad at Oryoki in the shrine-room -- Thistles blossomed late afternoon.

Put on my shirt and took it off in the sun walking the path to lunch.

A dandelion seed floats above the marsh grass with the mosquitos.

At 4 A.M. the two middleaged men sleeping together holding hands.

In the half-light of dawn a few birds warble under the Pleiades.

Sky reddens behind fir trees, larks twitter, sparrows cheep cheep cheep
cheep cheep.

22 January 2015

dit de la force de l’amour

Entre tous mes tourments entre la mort et moi
Entre mon désespoir et la raison de vivre
Il y a l’injustice et ce malheur des hommes
Que je ne peux admettre il y a ma colère

Il y a les maquis couleur de sang d’Espagne
Il y a les maquis couleur du ciel de Grèce
Le pain le sang le ciel et le droit à l’espoir
Pour tous les innocents qui haïssent le mal

La lumière toujours est tout près de s’éteindre
La vie toujours s’apprête à devenir fumier
Mais le printemps renaît qui n’en a pas fini
Un bourgeon sort du noir et la chaleur s’installe

Et la chaleur aura raison des égoïstes
Leurs sens atrophiés n’y résisteront pas
J’entends le feu parler en riant de tiédeur
J’entends un homme dire qu’il n’a pas souffert

Toi qui fus de ma chair la conscience sensible
Toi que j’aime à jamais toi qui m’as inventé
Tu ne supportais pas l’oppression ni l’injure
Tu chantais en rêvant le bonheur sur la terre
Tu rêvais d’être libre et je te continue.

15 January 2015

an eastern ballad

I speak of love that comes to mind:
The moon is faithful, although blind;
She moves in thought she cannot speak.
Perfect care has made her bleak.

I never dreamed the sea so deep,
The earth so dark; so long my sleep,
I have become another child.
I wake to see the world go wild.

8 January 2015

δυστόπος

On yesterday and Orwell,

Younger, I wondered what a citizen of a communist country would think reading "Animal Farm". As I read the allegory from an outsider point of view, everything seemed abstract, distant, impossible, funny. They did not have the book, could not have that reference for their own reality. That day-to-day was theirs, and even if they did not like it, they were embedded in that. I never discussed with anyone from an eastern block country that had read the book, but I suspect that fiction was as foreign to them as their reality was to me.
After 9/11, a disfunctional world became suddenly closer to us all. The countdown to "1984" started, as every year, every month, we discovered the big eyes and ears from governements. The simple put question of the balance between freedom and security was abused. There is no easy answer of course, and I remembered my meditations about "Animal Farm" and communist citizens. Even if it is in front of our noses, we still reason as there is a separate world called "1984" that is not the one we live in.
After the attack to Charlie Hebdo yesterday, I got this feeling that dystopia got us. I learned today of the open declaration of hostilities between Anonymous and Islamist Fundamentalist. A global gang war is coming to age, hackers against terrorists, and suddenly we are in a different world. I relate more and more to that communist citizen that could not refer to Animal Farm. At the end, we will get used to this brave new world, and I don't see any Orwell to lay it bare.

a desolation

Now mind is clear
as a cloudless sky.
Time then to make a
home in wilderness.

What have I done but
wander with my eyes
in the trees? So I
will build: wife,
family, and seek
for neighbors.

Or I
perish of lonesomeness
or want of food or
lightning or the bear
(must tame the hart
and wear the bear).

And maybe make an image
of my wandering, a little
image—shrine by the
roadside to signify
to traveler that I live
here in the wilderness
awake and at home.