6 September 2015

i don't know | new orleans

new orleans
My papa told me, my mother sat down and cried,
Say, "You’re too young a man, son, to have the many women you got"
I looked at my mother then, I didn’t even crack a smile,
I say, "If the women kills me, I don’t mind dyin’"

(Willie Mabon)
Onde você vai ficar hospedado em New Orleans?". O tipo ao me lado vestia um paletó claro sobre a pele escura. Acompanhava um sorriso cinematográfico, desses de anos frequentando uma cadeira de dentista. O todo sobre mais de um centena e meia de quilos.
Ele também ia para o Mardi Gras, e acho que era a antecipação da festa que o levava a regar o suco de laranja com um líquido dourado. O suco de laranja era servido pela aeromoça, o complemento dourado saia de uma garrafinha prateada discretamente escondida no bolso interno do terno.
Ele ia com quatro amigos, tudo arranjado, hotel reservado, carro alugado, a festa longamente antecipada. Não fosse o assento do avião, acho que ele teria caído para trás quando eu respondi que não sabia ainda onde ia dormir naquela noite. "Resolvo no aeroporto". Hábitos de outras viagens e uma certa inocência que não cabiam em New Orleans.
Era cedo no dia ainda, e por aqueles anos me importava pouco onde eu iria pousar. Hábito orgulhoso talvez, mas meu hábito, nunca havia me falhado a confiança nos arranjos de último minuto, de que o mundo me acomodaria. Mas para ele, o fato de um branquelo estrangeiro ficar desacompanhado e despreparado em New Orleans em pleno Mardi Gras era sim uma crise maior. Impossível entender como eu pude ter uma idéia dessas, ainda mais no meio do Carnaval. Me ofereceu whisky, ajuda e carona, nessa ordem. Recusei.
Queria ficar sozinho, longe de grupos barulhenots, mulheres e confusão. Uma idéia idiota vista de hoje em dia: se era isso que eu queria, não era New Orleans a direção correta. Não naqueles dias, ao menos. Do aeroporto eu consegui encontrar o último buraco disponível na cidade, nos fundos de um YMCA. Naquele fim de YMCA eu consegui passar minhas noites, mas não os dias. Um cubículo bolorento, com lençois rasgados e uma janela de vidro quebrado dando para lugar algum. Sem planos precisos para os dias seguintes. não tinha outra opção a não ser vagar pela multidão embriagada e embalada pela música.

13 de fevereiro de 1994

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