27 September 2015

compared to what | memphis

graceland graceland
graceland
Preachers filling us with frightening
they all trying to teach us what they think is right
they really got to be some kind of nuts
I can’t use it
I am tryin’ to do a real compared to what

(Eddie Harris)
Quando eu desci do ônibus em Memphis na véspera, eu não pensava em outra coisa. O sol alto e radiante anunciava a peregrinação à Graceland, templo, túmulo, residência. Eu fingia que ia visitar como simples turista a casa d’ele, em fim de adolescência eu antecipava alguma experiência mística que trouxesse um pouco de sossego. Eu recordava as noites e tardes da noite que eu passei ouvindo velhos LPs ainda antes de sair viajando pelo mundo, tempo em que eu pensava que as canções me diziam algo.
Na realidade, as canções não me diziam mais nada. Por entre os carpetes verdes, as estampas zebradas, as cores exageradas, descobri que ele também me abandonou. Graceland era um pedaço do passado dele, as músicas de que eu me lembrava tão bem eram mais um pedaço do meu. Nem a vida dele, nem a minha, me pareciam ser exatamente as vidas que eu nos tinha imaginado, romântica, heróica, beirando o místico. Eram no fim das contas, vidas ordinárias, a dele, a minha. Cada uma à sua maneira.
Graceland era um túmulo enfim, com uma mansão construída em torno. Restava pouco a fazer, senão contemplar aquela vida impossível, em silêncio de preferência, para não acordá-lo da sua siesta no segundo andar.

16 de fevereiro de 1994

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